Pintura de Adrian Lyndon
Soneto do sino e do tempoOuvir um sino é como abrir o tempo.
O tempo nítido de uma cidade
ornada de andorinhas e silêncio.
Um tempo que se estende desde o alto
das casuarinas às vagas colinas
em que morre o horizonte e onde um tesouro
de esperanças oferta-se em caminhos
vastos de amores, glórias, ilhas de ouro.
Respirar esse tempo é azul e calma
sobre quintais, varandas, cães, meninos
e meninas serenas e de tranças,
e sonhos de distâncias e destinos
em nós adormecidos e acordados
por esse dia aberto à luz de um sino.
Ruy Espinheira Filho nasceu em Salvador, Bahia, em 1942. Publicou 12 livros de poemas e vários de prosa e ensaio. É professor aposentado de Literatura Brasileira do Instituto de Letras da Universidade Federal da Bahia. Este poema pertence ao livro Sob o céu de Samarcanda (240 págs.), lançado no final de 2009 pela Bertrand Brasil.